quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Rosália


— Milorde... A rainha... Ela se foi.
Eu não a amava. Eu AMO aquela mulher acima de tudo. Acima de meu reino, acima de minhas obrigações, acima de mim mesmo. No entanto... Ela morrera. Por um monstro. Por sua perdição. Pelo fim de todos nós. Por nossa desgraça e ruína.
— Traga-me a criança. Chame a parteira. E não fale com ninguém nem permita que o vejam ou entrem nos aposentos reais. Vá depressa.
O pagem saiu correndo e mergulhei no meu inferno. Eu tinha de pôr um fim nisso, agora! Tanto amei minha doce Rosália e só tive seu desprezo. Eu lhe dei o céu e ela me deu o inferno, e ainda a amo. Eis isso, ela teve um filho do homem contra quem tanto batalhamos, o homem que ela realmente amava. Mas eu poria um fim nisso pois uma criança sarracena não podia ser explicada num reino onde todos tinham a pele mais alva que a neve. O que aconteceria se as milhares de pessoas além daqueles muros se dessem conta de que a realeza é tão falha e sujeita a erros quanto eles?
Ouvi os passos e me virei. A parteira tinha nos braços um embrulho e um punhal estendidos para mim. Ela também sabia.
Peguei o punhal — era meu dever! —, aproximei-me — eu tinha de fazer! —, a mulher foi tirando os cobertores — Agora! — e então... Era a cópia perfeita de Rosália o que eu via! Seus cachos loiros, sua boca miúda, sua pele clara. E só UMA COISA a traía. Em choque tomei a criança nos braços e firme disse à mulher:
— Vá dizer a todos que o varão do rei finalmente nasceu!

"Em meio ao fogo da batalha ele o viu. Era ele, o filho do homem que matara a única mulher que amara! Em sua cólera abriu caminho entre os homens e jogou antes que pudesse reagir; era fácil distinguir a rica armadura de um príncipe dentre as demais. Ajoelhou-se pondo a espada em seu pescoço — queria encará-lo —, arrancou o elmo e estacou.
Mas era… Era…
O cabelo loiro… A pele cor de leite… Os traços finos… os olhos! os seus olhos! Exactamente os mesmos olhos negros! Era…
— Meu…
Um momento de hesitação, foi tudo o que o príncipe precisou. O golpe foi fatal.
O rei inimigo estava morto.
E a guerra acabada."

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