segunda-feira, 30 de novembro de 2009

[...] - É demais para qualquer um, imagine para...

[...]

    - É demais para qualquer um, imagine para ela!
    Nesse momento tive vontade de lhe dar um soco. Imaginá-la daquele jeito, pequena e indefesa... Ela já não era mais a garotinha que conhecêramos; era uma assassina! Ou talvez ela ainda fosse, mas isso não importava mais... Agora ela era uma assassina fria e cruel e era para dar um fim nisso que estávamos aqui! Diziam que ela matava rindo, praticamente gargalhando; e era por isso que vieramos! Era por isso que estavamos sendo pagos.
    Eu até tentei argumentar para que Shipou ficasse, não fosse conosco... Tentei dizer que já era difícil para todos nós e que seria pior para ele; Que seria perigoso não só para o sucesso da missão, mas também para a segurança de todos nós. Quando ele soube de minhas tentativas até deixou de falar comigo por um tempo, chamou-me de louco; mas agora vejo que até ele sente a tensão. Sente (e sabe muito bem) que talvez tivesse sido melhor não vir. Mas conhecendo-o, sei que ele viria de qualquer jeito, então melhor que seja em nossa companhia e sob nossos olhos.
    Levantei a cabeça e fitei ao longe, o cheiro marinho clareando minha cabeça e afastando os maus pensamentos. A fina neblina do começo de manhã era leve e agradável e ajudava a concentrar. Fitei a proa do navio me concentrando no barulho das ondas... Voltei os olhos para o nosso círculo e vi que Nianco me encarava; pelo olhar dela, compartilhávamos os mesmos pensamentos.
    Fechei os olhos, respirei fundo e tentei voltar ao transe. Melhor meditar enquanto ainda se podia...
    Então eu estava parado na ponta da proa e a brisa marinha trazia consigo um cheiro a mais. Um cheiro doce... O cheiro da Dama da Noite em pelna alvorada. O vento assolou o casco do navio com mais força e de repente trouxe também consigo uma gélida risada.
    Abri os olhos com o coração disparado.
    Olhei em volta e vi que Shipou, Nianco e os demais ainda 'dormiam'. Decidi andar um pouco, não conseguiria mais me concentrar para meditar. Levantei, amarrei o cinto com a katana em meu quadril e fui andar pelo convés; minha respiração formando pequenas baforadas de vapor. Fui andando imerso em pensamentos. Pensando em como faria se caso nos separássemos (e isso era mais provável do que os outros imaginavam); que decisão tomaria a respeito de Shipou quando a hora chegasse; O que Sempai faria à nosso respeito quando chegasse a hora; Como os demais reagiriam? Será que estavam prontos? Será que tinham os mesmos temores que eu? E o mais importante de tudo... Como será que eu agiria? Será que conseguiria fazê-lo quando a visse? E se ela... E se encarasse aqueles olhos novamente e eles me fizessem esquecer todo o resto?
    Quando dei por mim estava parado na ponta da embarcação me debruçando sobre a amurada. Fechei os olhos fazendo uma pequena prece, a brisa soprou o cheiro doce em minha direção e os fechei com mais força, sem sentir a necessidade abri-los para saber.
    Ela sabia que estávamos chegando, é claro. A hora era agora. Tudo se decidiria. Não precisaríamos esperar pela batalha; ela já estava aqui. Era só uma questão de tempo até que decidisse começar.
    Começar...
    Que ironia.
    O começo do fim.
    Mas então eu a veria de novo, uma última vez.
    Kunoichi.
    Minha kunoichi.

                                                                                         Continua.


*Sempai (ou Senpai): veterano, sênior, o mais velho, o mais antigo; palavra japonesa usada para indicar respeito ou admiração por alguém mais velho e/ou mais experiente.
*Kunoichi: Kunoichi é uma ninja do sexo feminino. Além das habilidades tradicionais de um ninja, as Kunoichi recebiam um treinamento na arte da sedução. Eram muitas vezes vistas como a arma mais letal de um exército, por serem tão mortíferas e no entanto não 'apresentarem' ameaça alguma.

... É, ela não era melhor do que nenhuma das cortesãs

    Durante anos sonhara com esse momento. Mas agora depois de consumado ela não era melhor do que qualquer uma das cortesãs que conhecera nas tabernas.
    Levantou da cama e pegou o punhal na gaveta. Virou-se e viu uma confusão de cachos e lençóis que agora abraçava o travesseiro e no seu tenro e sereno sono, sorria. Aproximou-se suavemente e se inclinou para beijar de leve o ombro nú. Ela soltou um gemido em meio as suas risadinhas doces. Quando rindo ela se virou para abraçá-lo, os lábios dele sussurraram em seu ouvido - Obrigado - E antes que a boca dela alcançasse sõfrega e quente a dele a mão firme a cobriu e a lâmina afiada rasgou a pele alva como se nada fosse.
    É, ela não era melhor do que nenhuma das cortesãs.

[...]


    Um grande passo para ela; Uma pequena transa para ele.

[...]

Era o tipo de garota feia que não se importava em ser horrível.

[...]


    Louca e desalmada, era assim que ele a via.

[...]

Não era isso que machuva; Era ver que havia outra em seu lugar que ela não suportava.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Queria...

    Queria que o tempo parasse...
    Queria ter uma penseira bem grande pra poder mergulhar nela e rever tudo que já fiz, tudo que já não fiz, tudo que já ganhei, tudo que já perdi... (Queria também que isso não me fizesse chorar)
    Queria entender a dor... Não minha (já desisti de tal proeza), mas dos outros; principalmente daqueles que afeiçoo...
    Queria entender (apenas entender, não sentir) a dor de perder, por exemplo, um pai...
    Queria ainda, que se perdesse o meu pai, pudesse dizer "por todos os momentos inesquecíveis que passamos juntos..."
    Queria mais...
    Mais o que esperar... Mais o que anciar... Mais da vida... Mais da morte... Mais da tristeza, mais da alegria, mais do coração
    Queria poder menos...
    Poder amar menos, poder odiar menos... Poder temer menos, poder pecar menos pelo "excesso"... Poder rir menos amargamente... Poder sorrir menos abertamente... Poder "extravasar" menos discretamente...
    Poder ser apenas eu... Menos abertamente
    Queria... Queria muito...
    Queria tudo aquilo que mais quero...
    Mas também...
    Não queria aquilo que (no fundo) sei que realmente quero
    Acho que queria querer menos...
    Sem no entanto desejar de menos... Anciar de menos... Esperar de menos...
    E principalmente...
    Sonhar de menos

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

?!


    - Mas por quê?
    - Por que o que?
    - O...
    - Ah, sim. Sei.
    - Tá, então... ?
    - Então o que?
    - Então! Sabe, o...
    - Ah, sim! É, não sei.
    - COMO não sabe?!
    - Não sei! Eu... 
    - Você o que?
    - É que... Ah, esquece.
    - Não, agora fala.
    - Sobre aquela coisa.
    - Que coisa?
    - Aquele meu problema...
    - Que problema?
    - AQUELE! Você sabe, aquele problema...
    - Ah! Sim, sim... Não, sem problemas.
    - É...
    - Tá, mas e aí?
    - Como?
    - Aff! Tá! Você sabe! O...
    - Ah! Sim, mas...
    - Vai dizer que você já...
    - O que? NÃO! Nem pensar.
    - Ah, tá. Ok, tudo bem então.
    - É...
    - Tá, mas afinal, você já... ! Ou não?
    - Heim?
    - Esquece!!!
    - Olha... O que que era mesmo?
    - Esquece.

    - Eu falei com ele...
    - Hã?!
    - Eu falei com ele!
    - Ah! Tá...
    - Não quer saber?
    - Quê?
    - O ASSUNTO! Não quer saber como foi?!
    - Shhh! Fala baixo! O professor!
    - Tá, desculpa... Mas quer saber ou não?
    - Tá bom, fala.
    - Então, nós conversamos...
    - ...
    - ...
    - Continua!
    - Mas você parece que não quer ouvir!
    - Agora quero! Conta!!!
    *Shhh!
    - Viu?! Fala mais baixo e conta logo!
    - Bom, eu cheguei perguntando do assunto, aí...
    - Como?
    - Hã?
    - "Como"!
    - "Como" o que?
    - Como assim?!
    - Como assim o que?
    - "Como" você começou a perguntar!
    - Ah... Eu perguntei porque.
    - E ele?
    - Bom, ele não sabe bem...
    - Tá, mas ele... ?
    - Não tenho certeza.
    - Mas vocês não conversaram?!
    - Sim! Mas ele não disse.
    - Como você fala com ele e não pergunta?!
    - Eu perguntei!
    - Ele não respondeu?
    - É... Mais ou menos.
    - "Respondeu ou não"!
    - MAIS OU MENOS!!!
    - Shhh! Silêncio aí atrás.
    - Viu só?! Não grita! Explica isso logo!
    - É que... Eu acho que ele não entendeu.
    - Não entendeu o que? Então quer dizer que ele não... ?!
    - Não! Ele n...
    - O QUE?! Então ele... (!) MESMO?! Ai meu deus!!!
    - Não! Ele não entendeu A PERGUNTA!
    - Ah. Mas você perguntou OU NÃO?
    - Olha...
    - Quer dizer... Vocês falaram sobre TUDO, certo?
    - Mais ou menos...
    - COMO "MAIS OU MENOS"?!?!?!
    - Vocês duas aí, já terminaram o trabalho?
    - (Olha, quer saber? Deixa pra lá)

As vezes....


As vezes eu queria morrer só pra não ter mais que ver...

    E Ah... Seria tão bom se longe dos olhos fosse realmente bem longe do coração...
    Mas nem faria taaanta diferença assim... Até mesmo porque, você pode até conseguir deixar longe dos olhos, quero ver é você tirar da sua cabeça! E alguns até conseguem (pouquíssimos sem maiores esforços ou sacrifícios)... Mas o que ninguém (ninguém MESMO) consegue, é tirar do coração. (E que ninguém me venha tentar mentir! Uma vez lá dentro... É impossível tirar)
    Corações não deviam ser representados na forma que realmente lembra um "ésse dois", e sim na forma de um capetinha, que é o que eles realmente são!
    Corações pegam lembranças e se fecham à sete chaves com elas até para nós mesmos. Mas e aí, o que fazer? Não é como um vizinho barulhento que você bate na porta e pede para ele abaixar o som que amanhã cedo você trabalha e tal... Não, a política da boa vizinhança não funciona com capetinhas corações. Negociações também improvavelmente dão resultados. Mas o que se passa dentro dele? O que ele faz com tais lembranças? Se deleita-se, se chora, se ri, se faz trabalhos em encruzilhadas, se espuma de raiva... Ninguém sabe ao certo. Você só sabe quando sente... Aquela pontadinha de dor, aquela coisa que do nada te vem à mente, que mesmo depois de milenios ainda é engraçada (ou que agora virou engraçada), aquele ar de ironia que invade seu humor, aquele ódio tremendo quando você lembra de algo e viu que na hora podia ter dito mil coisas (!!!) mas que não disse nada... Enfim, você só tem uma vaga ideia quando sente.
    E que triste é quando isso te faz chorar. Mas não um acesso de choro, não! É quando isso te faz chorar de dor. De dor mesmo! Quando o choro não é desesperado nem estridente como o de uma criança, pelo contrário! É aquele choro baixinho... Que vem e acaba com você; é quando a dor é tanta que você não tem forças pra mais nada (nem mesmo chorar ou sair correndo pra qualquer lugar, bem longe desse bendito coração)... Mulheres mais do que ninguém sabem o que é isso. (E que seja apedrejada em praça pública a mentirosa que depois de uma vida inteira, vir dizer que nunca chorou por uma lembrança... Que nunca chorou sem ter emoção alguma, mas apenas porque... Porque doía, mesmo!)
    Eu volto e leio mil vezes as coisas que já escrevi (as lembrei no segundo seguinte e tive tempo de escrever e mesmo de salvar, pelo ao menos) e entre milhares, um pensamento me vem à mente... Que bom seria também, se o tempo realmente curasse e/ou pudesse apagar ou pelo ao menos amenizar o sentimento que está aqui agora; e não apenas nos fizesse acostumar com o mesmo, dando a impressão de que "dói" menos...
    Sim, que bom seria. Mas "tudo muda e certas coisas nunca mudam". Porém NÓS mudamos... Descobrimos novas ideias, novos ideais, novos pontos de vista, novas maneiras de ser e estar... O mundo muda o tempo todo e nós, querendo ou não, mudamos com ele. Por mais mínima que seja, uma coisa qualquer muda você. Você muda até (e como muda) seus pensamentos!
    Mas e o seu coração?
    Bom, eu sou da opinião que... Bem, que... Que não faço a mínima ideia, pra falar a verdade; mas que como tudo e todos, eu também posso mudar e um dia acabar descobrindo. (E que seja breve esse dia, Deus)
    Talvez eu acabe apagando esse post até porque ele não tem nada ha ver com os textos que eu idealizei pôr nesse blog... Ou quem sabe o deixe aqui mesmo, pra um dia também relê-lo e ver como mudei... E lembrar como nesse dia, detestava esse sádico sarcástico coração...
    Que pode ainda nem ser aquilo que penso que seja... Talvez até queira me ajudar tentando me mostrar um caminho e eu, cheia de emoções, crenças, medos, autoconfianças e teimosia, não consigo enxergar...
    Bem...
    Mas talvez.
    SÓ talvez.