quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

...Seu cabelo era loiro e sedoso e seu sorriso brilhava. Perfeito.

    O ar gelado da noite ajudava a pensar e pensar era tudo que Susana queria fazer naquele momento. Sentada de frente para a sacada de seu apartamento, observando a vista, com um chambre e uma taça de vinho na mão, ela tinha uma decisão a tomar.
    Fechou os olhos e uma lembrança lhe ocorreu. Ela tinha 14 anos e era sua primeira vez. Esrava com medo - muito medo- não sabia direito o que esperar e ela o amava; Meu Deus e como amava! Um minuto sem ele era uma tortura. Seu desejo não era bem por sexo - isso era mais "curiosidade" - seu desejo era por ele. E se o que ele queria era sexo então Susana queria sexo. Por que não? Ele era um pouco mais velho e muito mais experiente; ela se sentia segura e protegida ao seu lado. E ele ainda lhe sussurrava que não a machucaria... Que não precisava ter medo... Que tudo o que tinha que fazer era relaxar... Que...
    Susana riu.
    Era bom lembrar da jovem que um dia fora mas essa lembrança (outras também, mas essa em especial) a fizeram pensar, e muito...
    Pensar que ela nunca vivera realmente para ela. Nunca fizera suas escolhas pensando nela. Carreira, trabalho, casamento, marido, filhos... Nunca ela realmente. Casara cedo, 17 anos; agora, com três filhos - um estudando no exterior e outros dois que também já não moravam mais com ela - e três ex-maridos - dois divórcios ao descobrir as amantes que podiam ter a idade de sua filha e um que morrera de infarto; tinha quase 60 anos e ela já não se importava com garotinhas mesmo -, ela pensava...
    Nunca fizera as viagens que queria. Nunca aprendera a surfar nem dançar tango. Nunca tivera uma noite com um desconhecido. Nunca bebera "até cair". Jamais deixara o trabalho mais cedo sem motivo algum, apenas porque era sexta e o dia estava lindo mesmo. Nunca esquiara. Não fizera uma tatuagem...
    Hoje com 46 anos, já sem crianças dentro de casa, sem casamentos para sustentar, sem esposos, com um emprego estável, fazendo aquilo que queria fazer, com uma espaçosa casa, um corpo que ainda fazia parar algum homem na rua, com uma bela taça de vinho e uma vista perfeita, ela se perguntava...
    Por que se anulara tanto?
    Por que levara tanto tempo para ver isso? Por que abraçara por tanto tempo mais seu trabalho do que seu marido ou seus filhos? Ou melhor, por que abraçara mais do que fora abraçada? Por que nunca dissera "eu quero" antes? Meu Deus! POR QUE nunca parara para pensar no que ela queria?!
    Bom, foi fazendo a si mesma perguntas assim que ela tomara sua decisão...
    A campainha tocou e ela foi atender.
    - Oi, meu nome é...
    - Marcos.
    - Sim, isso mesmo. E você é Susana.
    Seu cabelo era loiro e sedoso, seu sorriso brilhava. Perfeito.
    Fez sinal para que entrasse, fechou a porta suavemente e lhe estendeu uma taça.
    - Já trabalhou com nossa agencia antes?
    - Não.
    - Hm... - ele correu os olhos pelo aposento - Belo apartamento. Então, Susana, em que você tr...
    - Sabe, não precisamos conversar - disse e tirou a taça de sua mão delicadamente.
    Ele a encarou por meio segundo antes de envolver sua cintura.   
    - Você prefere no quarto ou aqui na sala?
    Com uma boca jovem em seu pescoço ela pensava... É, devia ter dito DANE-SE amigos, família, carreira e aparências há muuuito tempo mesmo...

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