terça-feira, 20 de outubro de 2009

Ela me disse:

Então ela me disse: Eu vou!
E eu disse: Não, você não vai.
E ela disse: Eu vou sim!
E eu disse: Então vai.
Virei as costas e dei adeus.


segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Cultuando a "Beleza"

    Ser considerado belo dentro de um padrão quase inatingível deixou de ser apenas uma "dádiva" de alguns artistas e algo irrelevante para se atingir a felicidade; passou a ser uma regra.
    Homens devem ser altos, atléticos e com uma musculatura muitíssimo bem definida! Mulheres também, devem ser altas, com corpos tão esquálidos como se tivessem passado anos em campos de concentração ou então com seios dignos de uma holandesa premiada e músculos e formas que ao contrário do que diziam as antigas canções, parecem ter sido dadas pelo próprio demônio!
    O que nós, pessoas "normais", fazemos nesse mundo sem lugar para nada menos que a perfeição? Garotinhas são aliciadas (isso mesmo, aliciadas!) a prezarem sua aparência acima de tudo e a terem um infarto se saírem de casa e algo desarrumar seus cabelos. É, as mais atingidas são, como sempre, as mulheres! Antigamente no "nosso tempo" quando a moda mudava mudávamos de cabelo, de roupa, de sapatos... Hoje em dia muda-se de peito, de nariz, de bunda...
    O que aconteceram com as velhas canções exaltando as divas femininas com "seus corpos de violão esculpidos por Deus"? Com certeza ainda tocam na casa de alguma senhora que nem deve conseguir piscar ou sorrir direito de tanto ter sido "esticada" para manter o mesmo rosto que tinha há trinta anos.
    É, hoje em dia beleza pode deve ser tudo, menos saúde.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

"[...] Abriu os olhos e o que via era luz... "

    Confusão. Dor. Uma luz forte em seus olhos. Pessoas à sua volta andando, falando, correndo, gritando. Quando a luz já escurecia; quando a dor não podia aumentar mais; quando a confusão em seus ouvidos não podia ser maior; ela o viu. Alguém segurava seu anjo coberto de sangue ao seu lado. Seu bebê. Sua vida! Mas a escuridão era cada vez maior e algo estava muito errado, ele não chorava! Não!!! Estavam levando seu bebê e a escuridão aumentava, lhe afundava. Sentiu um choque lhe percorrer todo o corpo; mas a escuridão era mais forte e desistiu.
    Abriu os olhos e o que via era luz. Não sentia mais nada; era aconchegante ao seu redor. Seu pequeno anjo estava em seus braços, e agora ele sorria.

domingo, 4 de outubro de 2009

As mil portas





Pediu dispensa do trabalho. Queria chegar mais cedo aquele dia.
Mais tarde um corpo foi encontrado no saguão.
Para infelicidade do amante a casa tinha mil portas;
Mas nenhuma janela.

O cheiro do café



    Abriu a porta!
    O cheiro do café o transportou para aquele tempo em que não haviam brigas, traições, mentiras ou segredos. A imagem dela sorridente junto à pia, sem nem desconfiar que ele sabia, linda e jovem como sempre, fez seus olhos umidecerem. Como ou quando foi que tudo aquilo começou?
    Não importava. Era tarde demais.
    - Eu te amo - disse.
    Mirou e atirou.

    O corpo do homem de quase 50 anos cambaleou pela varanda até cair no jardim.
    Manchando as flores de vermelho.

Lilases ao Sol

Queria que o sol  lhe aquecesse por dentro.
Queria dormir sentindo o perfume das flores.
Nua deitou ao lado dos lilases no jardim.
Abriu as pernas esperando o sol entrar.
Só esqueceu das abelhas.

sábado, 3 de outubro de 2009

Silêncios



    O homem saiu do quarto suado, apenas com a calça do pijama e encostou a porta sem fazer ruído. Antes que se virasse o golpe atingiu-o na nuca e o corpo caiu no chão, o cabelo loiro quase marfim agora manchado de vermelho. O assassino contemplou sua face com nojo.
    Tocou a porta e ela se abriu. Estendeu sua mão. Lá dentro a menina de no máximo 14 anos  –  loira e angelical – encolhida sob a cama ainda chorava. Ela viu a faca com sangue e pensou em seu pai, sua mãe e seus irmãos, todos silenciosos. Agarrou então sua mão e ele a levou consigo para longe daquele pesadelo.
    Nunca mais pensou em seu pai, sua mãe ou seus irmãos, todos silenciosos.
    Todos cúmplices do seu acobertado inferno.
    Para sua benção, todos mortos.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Rosália


— Milorde... A rainha... Ela se foi.
Eu não a amava. Eu AMO aquela mulher acima de tudo. Acima de meu reino, acima de minhas obrigações, acima de mim mesmo. No entanto... Ela morrera. Por um monstro. Por sua perdição. Pelo fim de todos nós. Por nossa desgraça e ruína.
— Traga-me a criança. Chame a parteira. E não fale com ninguém nem permita que o vejam ou entrem nos aposentos reais. Vá depressa.
O pagem saiu correndo e mergulhei no meu inferno. Eu tinha de pôr um fim nisso, agora! Tanto amei minha doce Rosália e só tive seu desprezo. Eu lhe dei o céu e ela me deu o inferno, e ainda a amo. Eis isso, ela teve um filho do homem contra quem tanto batalhamos, o homem que ela realmente amava. Mas eu poria um fim nisso pois uma criança sarracena não podia ser explicada num reino onde todos tinham a pele mais alva que a neve. O que aconteceria se as milhares de pessoas além daqueles muros se dessem conta de que a realeza é tão falha e sujeita a erros quanto eles?
Ouvi os passos e me virei. A parteira tinha nos braços um embrulho e um punhal estendidos para mim. Ela também sabia.
Peguei o punhal — era meu dever! —, aproximei-me — eu tinha de fazer! —, a mulher foi tirando os cobertores — Agora! — e então... Era a cópia perfeita de Rosália o que eu via! Seus cachos loiros, sua boca miúda, sua pele clara. E só UMA COISA a traía. Em choque tomei a criança nos braços e firme disse à mulher:
— Vá dizer a todos que o varão do rei finalmente nasceu!

"Em meio ao fogo da batalha ele o viu. Era ele, o filho do homem que matara a única mulher que amara! Em sua cólera abriu caminho entre os homens e jogou antes que pudesse reagir; era fácil distinguir a rica armadura de um príncipe dentre as demais. Ajoelhou-se pondo a espada em seu pescoço — queria encará-lo —, arrancou o elmo e estacou.
Mas era… Era…
O cabelo loiro… A pele cor de leite… Os traços finos… os olhos! os seus olhos! Exactamente os mesmos olhos negros! Era…
— Meu…
Um momento de hesitação, foi tudo o que o príncipe precisou. O golpe foi fatal.
O rei inimigo estava morto.
E a guerra acabada."